Apresentação

Esta é uma investigação focada na (re)construção das imagens do campo de batalha português, cuja primeira fase desenvolve-se entre  os anos de 1521 e 1621.
Neste  primeiro momento da nossa investigação, em torno de um Imaginarius Bellica,  é nosso propósito iniciar um levantamento exaustivo das fontes escritas e iconográficas durante 100 anos de guerra no espaço de influência portuguesa, analisando detalhadamente a recepção dos modelos narrativos e visuais e a forma como estes se manifestam na construção da imagem do campo de batalha de influência portuguesa entre 1521-1621.

A cronologia compreendida entre o reinado de D. João III e o do segundo rei da monarquia dual ibérica foi uma época de reorientação imperial marcada por acontecimentos traumáticos e por um extenso processo de reformulação do poder militar num ambiente de contrastes e contradições - entre o fim da Idade Média e o reavivar de um espírito de cruzada anacrónico. A prossecução da guerra é um instrumento de poder, e a actualização dos factores associados ao combate - como os dispositivos tácticos, a modernidade do armamento ou a qualidade da armaria - essenciais para a construção de uma imagem bélica consistente - tornam-se parte de um mesmo processo de afirmação.

Porém, a guerra não se esgota no acto bélico em si, limitado ao estudo do armamento e da táctica. Trata-se de uma forma específica de comunicação, um espectáculo visual de auto-afirmação e intimidação, e também um "modelo de ocupação do espaço, com as suas regras e estruturas funcionais", enfim, uma verdadeira "arquitectura de batalha" como escreveu Guido Beltramini. A emergência de novas formas de combater, o protagonismo da Arte, e o impacto da imprensa como potenciador da circulação da palavra escrita, e o contacto com diferentes geografias fazem do Renascimento uma época na qual a relação entre Arte e Guerra é particularmente relevante.

De facto, a guerra do Quatrocento e Cinquecento, enreda-se numa teia feita de soldados, de engenheiros/arquitectos, escultores e pintores, transformando-a num palco onde se manifestam os mais diversos aspectos de uma cultura material globalizada: fontes iconográficas, retratos de aparato de reis e alta nobreza, cenas complementares de pintura, retábulos de altar, frescos, escultura… e, evidentemente, armas e armaduras.

O projecto De Re Militari propõe aproveitar este potencial e ensaiar a (re) construção das imagens do campo de batalha português (1521-1621), centrado em três vertentes:

1. Sinalizar e proceder ao levantamento das fontes portuguesas relevantes para o estudo da Arte militar, como sejam os tratados, a legislação, e a cronística;
 

2. Sistematizar o material iconográfico já identificado, sinalizar e proceder ao levantamento de novas fontes especialmente relevantes;
 
3. Analisar e articular o material iconográfico com os suportes escritos, na perspectiva de uma análise arquitectónica do campo de batalha, com especial foco na relação entre a teoria e a prática da guerra em Portugal (1521-1621).