Pormenor do padrão P-17-00431
Pormenor do padrão P-17-01027 | Az Infinitum / Inês Aguiar
Pormenor do padrão P-17-01027 | Az Infinitum / Inês Aguiar
Fotografar azulejos
Parte essencial de um processo de inventário é a captação de fotografias. A actual disseminação de imagens promovida pela fotografia digital tem inúmeras vantagens, mas implica, também, um efeito pernicioso: a desvalorização das mesmas. Importa, portanto, uma breve reflexão sobre o papel fundamental da fotografia num processo de inventário, com o objectivo de recentrar a atenção no acto fotográfico. Assim, e tendo o azulejo como objecto de inventário, o presente texto pretende destacar algumas noções relevantes para a produção de documentos fotográficos válidos, valorizando, a um tempo, acto fotográfico e objecto fotografado.
É indiscutível a importância do estudo da obra de arte in situ. No entanto, muitas vezes tal não é possível e é por isso que urge ter a maior atenção ao momento de captação de imagens. Quando se fotografa uma obra de arte, como um revestimento cerâmico, deve-se estar ciente de que se está a produzir um documento visual de algo que pode ser sujeito ao furto, a alterações ou mesmo à destruição. Isto significa que, no limite, a imagem produzida poderá ser, no futuro, a única fonte de informação visual para estudo de determinada obra.
Outra questão que deve ser tida em conta é que esse documento visual poderá ser usado por pessoas que nunca estiveram em presença da obra e que, por isso, não possuem um conjunto de informações abrangentes, complexas e sensíveis, que a nossa percepção gera quando confrontada com essa presença. Daí a importância acrescida de uma imagem ou, preferencialmente, de um conjunto de imagens que não apresentem problemas de leitura.
Uma fotografia que esteja desfocada, tremida, com uma fotometria errada, com as cores alteradas ou mesmo com uma perspectiva demasiado distorcida, tem a sua leitura comprometida e, por isso, fornece informações insuficientes ou erradas a quem a observa. Falha, assim, o seu propósito como documento fotográfico.
Uma das características da azulejaria portuguesa é a produção de conjuntos azulejares, de maior ou menor extensão, mas sempre habilmente articulados com a arquitectura e outras manifestações artísticas presentes em determinado espaço. É, por isso, da maior importância a captação de um conjunto de imagens que registem a aplicação do azulejo na sua totalidade, com os correspondentes emolduramentos ou com a envolvente, como por exemplo as cantarias dos vãos.
Assim, tendo em vista o registo destas informações, sugere-se que sejam efectuadas as seguintes captações:
_ A inserção do revestimento na arquitectura, enquadrando-o na sua globalidade e evidenciando a forma como se articula com o espaço em que está inserido e com os elementos contíguos;
_ Emolduramento (vertical e horizontal, sempre que se justifique) e respectivos cantos. No caso do emolduramento ser repetitivo devem ser fotografados um ou mais azulejos (fotografados individualmente), que se encontrem o menos danificados possível, de maneira que se consegue ver todos os elementos do desenho, bem como um ou mais azulejos (fotografados individualmente) que formem o canto;
_ Inscrições e/ou assinaturas.
AZULEJO FIGURATIVO
_ A totalidade da secção, ou seja, a cena representada com o respectivo emolduramento;
_ Pormenores da cena representada que sejam considerados relevantes e que possam facilitar, por exemplo, uma identificação iconográfica.
AZULEJO DE PADRÃO
_ Uma área extensa que evidencie o padrão com os respectivos emolduramentos, assim como possíveis efeitos ou ritmos visuais;
_ Um ou mais azulejos que formem o padrão, que se encontrem menos danificados, de maneira que seja possível ver todos os elementos do padrão (centro(s) e elemento(s) de ligação).
SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS PORMENORES PARA O ESTUDO DOS PADRÕES
Na catalogação de um padrão de azulejos, os pormenores ditam se estamos perante um padrão já catalogado ou um novo. Pode não parecer significativo, mas algo tão simples como a mudança de cor no contorno, no núcleo de um elemento de ligação, etc. é algo que cria impactos diferentes no observador quando este está perante o padrão na totalidade da sua extensão. Neste sentido, tais elementos diferenciadores, ainda que por vezes mínimos, dão origem a novos números de catalogação.
Justifica-se, assim, um olhar atento para o revestimento in situ, tendo em vista detectar se existem, ou não, elementos diferenciadores, e, por isso, mais do que um padrão, devendo ser feito um registo individual de cada azulejo que forma o padrão. Mais uma vez, relembra-se que se deve escolher os azulejos menos danificados e, por isso, mais completos em todos os seus elementos. Se todos os azulejos estiverem danificados, deve-se registar mais do que um do mesmo padrão, no sentido de se ficar com a “informação total” sobre cada padrão presente no mesmo revestimento.